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Soy Loco Por Ti Juquery

2018 a 2024
Festival de artes
Franco da Rocha, SP
Brasil

O Juquery é um hospital psiquiátrico que durante mais de 120 anos foi referência de saúde mental. Uma enorme colônia em um terreno de 600 mil metros quadrados em Franco da Rocha e região, periferia da Grande São Paulo. O espaço, que chegou a receber 17.000 internos (de forma caótica e pouco humanitária), hoje está desativado e muitos dos prédios de Ramos de Azevedo, históricos e impactantes, estão vazios.

É nesse cenário que o Soy Loco por Ti Juquery acontece. Um festival de artes que propõe uma ressignificação do Complexo Hospitalar do Juquery através de uma ocupação cultural. Sempre em setembro, o espaço recebe intervenções artísticas, entre música, teatro, instalações, oficinas, debates, performances e cinema. O Juquery, geralmente com aspecto de abandono, recebe iluminação e cenografia, ganha vida e as apresentações acontecem em espaços inusitados, espalhadas pelos prédios, jardins e corredores desocupados. Além disso, o festival promove um educativo voltado para os usuários dos CAPS - Centros de Atenção Psicossocial.

Ressignificar o Juquery

As 6 edições do Soy Loco Por Ti Juquery levaram ao espaço mais de 20 mil pessoas e alcançaram um público total de mais de 2 milhões de pessoas, com matérias conseguidas na TV Globo, Cultura, Estadão e com uma comunicação que se espalha pela região e pelas redes. O Festival já marcou a cidade e todos que passam por ali. Como diz o músico Ranulpho Faria, figura clássica de Franco da Rocha, o Soy Loco foi responsável por uma espécie de refundação do Juquery.

O Soy Loco Por Ti Juquery foi idealizado e dirigido por Victor Fisch e produzido por Helena Forghieri.

Vem se consolidando como um espaço relevante de reflexão e criação artística, na linha entre saúde mental e arte. Cada vez com mais apoios e um histórico consistente e sério, agregou importantes parceiros internacionais, como o Goethe-Institut e o Living Museum (EUA/Suíça), trazendo programações internacionais para o festival. Isso se dá pois ele atua em um campo muito importante e pouco explorado pela cultura: o vínculo entre arte e saúde mental. Ou ainda além: o rompimento das bordas entre um e outro, transformando tudo em uma coisa só, um agregado que vai além da arteterapia, um conceito para o qual nem nome temos, mas que está no campo da expressão simbólica do ser.

Franco da Rocha é uma cidade periférica, que por muitos anos carregou estigmas, como a cidade dos loucos ou ainda dos presídios, pois algumas das colônias do Juquery foram transformadas em prisões. Hoje, vemos um pouco desse estigma sendo transformado. O processo do Festival, juntamente com a reinauguração do Museu de Arte Osório César, e algumas ações da Prefeitura de Franco da Rocha e do próprio Complexo Hospitalar do Juquery fazem com que elementos importantes de sua história venham à tona.

Uma jovem moradora de Franco da Rocha deixou um depoimento durante a 1ª edição do Festival, em 2018, que acreditamos ilustrar precisamente a relevância do projeto e seu objetivo. Ela contou que costumava ter vergonha de dizer que era de Franco da Rocha, uma cidade pobre, periférica, associada aos loucos, ao seu ver, e que o Soy Loco Por Ti Juquery foi um marco para fazê-la dizer que agora tem orgulho de ser francorrochense. Entendemos que esse tipo de experiência é o melhor resultado que o Festival pode alcançar, alinhado à premissa do Plano Nacional de Cultura, compreendendo seu impacto como direito de cidadania. E nas cinco edições já realizadas pudemos ver a multiplicação de efeitos positivos na cidade, na região e no mundo, como as transformações no território e em sua população.

O Soy Loco ainda funciona como uma espécie de semente, de onde iniciativas brotam e se espalham pelo mundo, gerando outros frutos. Ao longo de nossa história, pudemos observar como o Juquery funcionou como um imã para diferentes artistas. Alguns deles foram impactados de forma tão profunda que seus trabalhos passaram a integrar o Juquery de diferentes maneiras. Alguns seguiram trabalhando em parceria com o Juquery, outros criaram novos projetos inspirados pelo espaço e por sua história. Por se tratar de um festival com uma característica única, projetos são criados pensados para o Festival e tomam vida própria, estendendo a história do Soy Loco para uma coisa sobre a qual não temos controle. Aí temos um impacto do desenvolvimento econômico da cultura, multiplicando os investimentos iniciais no projeto.

O Juquery é um espaço de importante arquitetura, com prédios assinados por Ramos de Azevedo (1851 - 1928), belos jardins e uma história muito rica. O que estamos fazendo lá, através desse Festival é um resgate de extremo valor para a população local e, indiretamente, até para a história da psiquiatria brasileira e internacional. O Juquery foi referência durante muitos anos como o berço do estudo da psiquiatria no Brasil.

O Juquery esconde muitas histórias. A maioria delas não é muito feliz. Entre experimentos com pacientes, “loucos” que foram abandonados por suas famílias e pessoas internadas à força por códigos morais de épocas. O próprio conceito do tratamento da ""loucura"" foi muito modificado desde 1898, data de construção do Juquery. Franco da Rocha é resultado da vinda de moradores ao redor do Juquery e a cidade até hoje vive com essa história plenamente viva.

O uso da psiquiatria moderna, de Osório César e Nise da Silveira, foi revolucionária no tratamento de distúrbios mentais. Ambos trabalharam com a arte como terapia. A arte tem um poder ainda pouco utilizado em nossa sociedade. Osório, que foi casado com Tarsila do Amaral, foi um médico inovador que transformou o Juquery em um grande ateliê de arte. Hoje, o acervo do hospital conta com mais de 8.000 obras de arte feitas por internos, que agora faz parte do Museu de Arte Osório Cesar (MAOC), inaugurado em 2020.

Franco da Rocha não mais como borda, mas como centro. Não o centro de uma história triste e pesada, mas de uma história de arte, de inovação e de cultura. Só a cultura transforma profundamente as realidades.

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